sexta-feira, 18 de março de 2011

Hipérbole jornalística

O acesso a informações está cada vez mais prático e dinâmico. Fácil, pode-se até dizer. A evolução tecnológica transformou jornalismo em algo não apenas acessível como também fabricável por qualquer um. Entre essa grande quantidade de informações, torna-se impossível diferenciar o verdadeiro do irreal ou exagerado.
O sensacionalismo tem se tornado uma marca registrada na maior parte das mídias, em especial as televisivas, que atingem uma maior porcentagem da população. O Brasil é um país onde a educação deixa a desejar e o entretenimento é enfiado goela abaixo do povo como única fonte de prazer e anestesia para os males do dia-a-dia. As informações relevantes são consideradas assuntos de intelectuais enquanto as massas preferem dar atenção ao que possui o maior apelo emocional. Assim sendo, qualquer programação, por mais séria que deva parecer, acaba também aderindo a um pouco do circo e transformando em drama o que deveria ser transmitido com seriedade.
Um exemplo são as tragédias que atingiram (e continuam atingindo) o Japão. Milhares de textos, vídeos e imagens se espalharam rapidamente por todo o mundo, fazendo com que o "desespero" dos japoneses fosse compartilhado e globalizado. Porém não se sabe até que nível esse desespero pode ser considerado real.

Construções queimam após um terremoto próximo ao aeroporto de Sendai, no nordeste do Japão, em 11 de março de 2011. (REUTERS/KYODO)
Para quem vê de fora, o Japão foi quase que completamente destruído, o pouco que resta está ameaçado, os japoneses que sobreviveram estão desesperados, contaminados e em quarentena. Inclusive, o acidente na usina nuclear pode até ser comparado à história de Resident Evil, uma série de quatro filmes baseada no jogo homônimo, que conta como uma cidade foi destruída após ser isolada pela contaminação por um vírus letal. A situação chega a parecer uma tragédia teatral, e não um incidente acontecido em um país de primeiro mundo, com uma tecnologia que aparenta ter saído de um filme de ficção científica, o Japão já previa e havia se preparado para uma catástrofe natural como as que vêm acontecendo. O número de mortos, inclusive, é menor do que o dos incidentes acontecidos na região serrana do Rio de Janeiro.

Carros e aviões arrastados por uma tsunami são fotografados entre destroços no aeroporto de Sendai, no nordeste do Japão, em 11 de março de 2011. Houve vários tremores pós-terremoto e um alerta de uma tsunami de dez metros após o terremoto, que também fez com que construções balançarem violentamente na capital Tokio. (REUTERS/KYODO)
A situação chegou a um nível tão grotesco que foi noticiada a chegada de um tsunami ao Brasil. O título da matéria não dava nenhuma margem à confusões, e só ao final do texto o tal especialista comentava que não seria nada mais que a vibração causada por uma tsunami que causaria uma variação de apenas um centímetro nas ondas da costa brasileira. Mas como existe um gosto pelo desespero neste país, é de se imaginar que muitos tenham corrido à procura de abrigo antes mesmo da metade daquela matéria.

Uma enorme tsunami atinge as regiões costeiras de Iwanuma, Miyagi Prefecture, no no nordeste do Japão em 11 de março de 2011. (REUTERS/KIODO)

Revelar apenas os fatos não seria condizente à educação de um povo completamente desinteressado. A ação e o desespero transformam qualquer situação mínima em um grande espetáculo que atrai um público cada vez maior e mais fiel. Apelar às emoções mais humanas, como a piedade e o medo, gerar falsas polêmicas e desestimular o raciocínio do espectador é uma receita que funciona e continua mantendo-o ali, algemado ao controle remoto e com os olhos e ouvidos mais ligados do que a própria televisão. Mas a um povo que não se importa em buscar a real informação e se rende ao que qualquer um noticia por trás de uma tela, isso é mais do que se deveria oferecer.



Por Ayla Lobo, Letícia Manhães e Monique Ferreira


Fontes
Tsunami deve chegar ao Brasil na madrugada de sábado
Imagens
Vídeo

3 comentários:

  1. Eu tenho medo do que nos tornamos todos os dias quando nos deixamos contaminar por informações sem sentido. Mas todos estamos sujeitos a isso.

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  2. Lindo texto meninas. Resume bem a situação catastrófica em que a mídia brasileira se encontra. É tudo o que eu queria dizer. Parabéns mesmo.

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  3. Realmente, muitos querem deixar a notícia mais interessante e acaba distorcendo as coisas. Os que estão do outro lado ficam presos somente a uma fonte de informação, não procuram ver por outros ângulos.

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